Desvendar “quem somos” influencia a parentalidade consciente | Uma entrevista com Eleanor Luzes

“A primeira impressão é a que fica”, afirmou Eleanor Luzes, procurando ampliar o sentido da expressão popular, no TEDx Rio+20 sobre a Ciência do Início da Vida, que ela encabeça no Brasil. Segundo a médica, psiquiatra e analista junguiana, duas horas antes e duas horas depois do parto, a mulher e o bebê experimentam ondas cerebrais que só terão novamente – se as tiverem – em uma situação de êxtase. E não só. Essas “inscrições” ou “matrizes”, proeminentes desde o período anterior à nossa concepção até os três anos de idade, são essenciais para compreender a nossa biografia e escolhas ao longo da vida.

A boa notícia, que aprofundamos na entrevista a seguir, é que isso pode ser transformado. Já sabemos, por meio da epigenética, que o nosso DNA, que contém um código de linguagem escrito, como se fosse “um script da nossa ancestralidade”, nas palavras de Eleanor, é mutável e pode ser reprogramado na medida em que conhecemos a nossa história e das nossas origens. Ou seja, não estamos condenados a repetir ou a compensar os erros dos nossos antepassados, vivendo conforme um acordo feito inicialmente. Por meio de técnicas quânticas e transgeracionais, é possível liberar a si mesmo, aos descendentes, aos colaterais e a todos aqueles que compartilham do mesmo código genético.

“Somos marcados pelas vivências intrauterinas, nossa primeira escola de vida, nosso parto, nossos primeiros anos, o que constitui informações definitivas no hemisfério cerebral direito. Técnicas de renascimento vindas para o ocidente desde os anos 1920, assim como as milenares orientais, podem curar estas feridas, para não as repetirmos em nossos filhos, pois somos escravos daquilo que não temos consciência”, escreveu Eleanor. Confira algumas de suas ideias sobre este caminho:

Comparto: A Ciência do Início da Vida diz que “a criança é um espelho da criança que nós fomos” e que “quando você concebe um bebê você tem a sua própria concepção em jogo de novo”. Como isso funciona e como podemos usar isso a favor da nossa biografia?

 Eleanor Luzes: Nós somos materiais por uma questão de ilusão de ótica. A verdade é que nós somos frequenciais. Essa é a verdadeira história, e temos que olhar para isso. Qual é a frequência de uma concepção? Se este evento produziu uma memória auspiciosa, agradável, amorosa, a pessoa que nasce terá uma autoestima que ninguém destrói. O contrário disso é a concepção ilegítima, usada para alcançar alguma coisa, segurar uma relação… Na concepção por amor, a pessoa nasce irradiando amor.

A concepção é como uma onda fractal (este conceito encontrado na Física, difundido na pesquisa das moléculas de água de Masaru Emoto) e há de se repetir. Suponha que uma pessoa não teve uma concepção auspiciosa e isso aconteceu em outubro. A tendência é de que as coisas mais difíceis em sua vida aconteçam em outubro. Está dentro do seu programa. O bom é que podemos desprogramar. Como difunde Bruce Lipton, entre outros pesquisadores, 95% do nosso código genético é informação transgeracional, um código de linguagem escrita e que você pode transformar.

Comparto: Quais são as técnicas que permitem resgatar essa biografia oculta e reprogramar as matrizes genéticas?

Eleanor Luzes: São técnicas quânticas e transgeracionais. Uma delas é a pessoa fazer a própria árvore genealógica. Ela pode descobrir, durante toda a sua vida, coisas ainda presentes que aconteceram há 7, 14, 21 anos. O meu sonho é que esse trabalho seja feito nas escolas. As crianças descobrem coisas que os pais não descobrem, notam o que falta na história da família… Leem os contos dos Irmãos Grimm e sabem lidar com as histórias difíceis com menos preconceito e mais naturalidade. A partir daí começamos a escrever cartas para os pais ou antepassados, desvinculando-as do acordo inicial feito com essas almas. Outra maneira é o renascimento. Após algumas sessões, a pessoa pode fazer sozinha. A vantagem disso é que ela libera a si mesma, libera os seus descendentes, libera seus colaterais, todo mundo que compartilha esse DNA… Pode liberar até quem está no bardo ou quem está encarnado em outro lugar e repetindo a mesma encrenca. Estejam onde estiverem. Ao fazer isso, você está mudando tudo.

 

Comparto: Então, esses eventos marcantes ficam impressos na pessoa…

Eleanor Luzes: ….por gerações! Se o problema é alcoolismo, por exemplo, posso encontrar há gerações um caso de assassinato impune. E assim vai. Quem estruturou esse conhecimento foi uma psicóloga russa, que vive na França, chamada Anne Ancelin Schutzenberger, que por meio do genossociograma (um instrumento da Psicogenealogia) identificou padrões nas sagas familiares que se repetem, e não são genéticos no sentido que costumamos dar. Então, você encontra na família pessoas que repetem os padrões e pessoas que compensam, ou seja, pagam a conta, sacrificando suas vidas, por exemplo, com doenças psiquiátricas, neurológicas ou outras moléstias incapacitantes.

Comparto: Quando e como chegamos a esse conhecimento sobre o início da vida?

Eleanor Luzes: Este conhecimento é tão antigo que a rainha Tae Jin, tida como a mãe do autor de I-Ching, o Livro das Mutações, escreveu, 12 séculos a.C., um livro sobre “como ter um filho que será uma alma elevada na Terra”. Queen Jin’s Handbook of Pregnancy foi publicado em inglês, na Coreia do Sul, por Fred Seligson, autor que reuniu, ele próprio, mil sonhos de mulheres que encontraram seus filhos antes da concepção.

Não há pouco material sobre o tema. Em 1978, se estabeleceu uma carta da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Alma-Ata, na qual, em função de descobertas, entendia-se a necessidade de integrar o conhecimento sobre os nascimentos e a parentalidade consciente nas escolas. Até hoje foram sete cartas, envolvendo tanto a OMS quanto a ONU, das quais o Brasil é signatário. Ou seja, a ideia de criar a disciplina da Ciência do Início da Vida já existe há muito tempo. Há também documentos no Japão, no Irã, na Holanda, nos países escandinavos, na Espanha, na Grécia…

O que noto, agora, é um aumento no interesse, principalmente dos jovens, pelo tema. Em 2000, na universidade, eu falava para uma pessoa. Em 2016, realizamos um Congresso online (CINCIV) que reuniu 10 mil participantes. Acredito que os trabalhos quânticos serão a medicina do século 21. Há cada vez menos espaço para a medicina inventada em 1920, ligada à indústria farmacêutica. A despeito dos livros de biologia, as pessoas estão se dando conta de que não precisam aceitar qualquer coisa, percebem seus direitos e sabem que podem fazer diferente, na economia, na agricultura, na educação. É claro que isso não ocupa o noticiário principal, mas estamos muito perto de uma virada. Não vai demorar muito para percebermos que podemos ser felizes. É um caminho inexorável.

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